sexta-feira, 22 de maio de 2009

Reginaldo Leme

Coluna Grand Prix: Costas europeias
Zebras acontecem em Mônaco. É nisso que acreditam também os ferraristas, que compõem a maioria da torcida deste lugar de 33 mil habitantes, dos quais apenas cinco mil são monegascos
Reginaldo Leme
Viajar de carro na Europa é um ótimo programa. Quem já fez, sabe bem disso. Para quem não fez, o meu conselho é um bom roteiro, um bom carro e tempo de sobra, pra poder parar onde der vontade. Só não pode ser em alta temporada para não correr o risco de não encontrar vaga em hotel algum, especialmente se o seu roteiro for pelas praias. Foi o que fiz nesta última semana, saindo de Barcelona para chegar a Mônaco. De auto-estrada pode ser feito num tiro só, de 800 quilômetros. Mas a graça da brincadeira é viajar pelas estradas costeiras. Da espanhola Costa Brava e da francesa Côte d’Azur. Especialmente na parte espanhola, algumas estradas são propositadamente bem rústicas para não interferir na natureza. Caminhos estreitos em serras íngremes, com uma cerca de madeira de 50 centímetros, apenas o suficiente para se saber onde termina o asfalto e começa a encosta da montanha.
Mesmo não sendo um caminho novo para mim, há sempre uma forma de mudar o roteiro e, desta vez, a surpresa foi conhecer Cadaqués, extremo nordeste da costa espanhola, a 170 quilômetros de Barcelona. Lugar freqüentado por Miró, Picasso, Garcia Lorca, Luis Buñuel, atores do cinema e teatro que foram amigos pessoais do mais famoso morador local, o maluco Salvador Dali. Estar ali diante de sua casa em Port Lligat, banhada por aquele pequeno braço de mar que foi inspiração para as criações surrealistas do paranóico genial Salvador Dali é algo muito forte.
Já na costa francesa, um pit stop para uma boa cerveja no porto de Cassis, que foi minha base durante nove anos nos GPs da França de 1982 a 1990, quando era disputado no agradável circuito de Paul Ricard. Dali em diante, La Ciotat, Bandol, Toulon, Hyeres, cidades e vilas da chamada Costa Provençal até entrar na Côte d’Azur e estacionar em St. Tropez por uns dias. O duro foi sair de lá. Mas já estava chegando o momento de eu estar em Mônaco e a passagem por St. Maxime, San Raphael, Cannes e Nice foi só pra matar saudades. Cannes agitada ao extremo em pleno Festival de Cinema, 62ª edição, sempre coincidindo com o GP de Mônaco, este criado bem antes, em 1929, quando ainda não existiam nem a F1 nem o Campeonato Mundial.
Mônaco é a base de muitos pilotos de F1, por questões geográficas e financeiras. A localização é boa para quem viaja muito e o imposto de renda é pago mediante um contrato negociado com o Governo. Entre os não residentes, o primeiro que vi chegar foi Lewis Hamilton, que também cogitou morar em Mônaco, mas acabou preferindo a Suiça, aconselhado por Michael Schumacher, que trocou o Principado pela calma vila suíça de Crans oito anos atrás. Hamilton vê a chance de repetir a vitória do ano passado como uma zebra. Mas zebras acontecem em Mônaco. É nisso que acreditam também os ferraristas, que compõem a maioria da torcida deste lugar de 33 mil habitantes, dos quais apenas cinco mil são monegascos. A aposta de Hamilton é no compatriota Button, que, em dez anos de F1, só uma vez chegou ao pódio de Mônaco (segundo em 2004). Barrichello, aniversariante de amanhã, já esteve mais perto da vitória (segundo lugar em 1997, 2000 e 2001). A chance de um novo vencedor é grande. Entre os que já ganharam aqui, Alonso, Hamilton e Raikkonen não andam bem no campeonato. Jarno Trulli, que teve aqui sua única vitória (2004), está um pouco melhor.

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